Sempre me preocupei em ter meu dinheiro, desde bem pequena, mas justamente na hora mais importante de todas, quando poderia escolher em que curso me graduaria, optei em ser artista.
Meu jesuscristinho, me diga por que cargas d’água os alucinados-sonhadores-de-18-anos-que-acreditam-que-vivem-em-filmes devem decidir sua profissões no momento em que ainda acreditam no PT e acham o Cinema Novo incrível?
A adolescência é um lapso na vida da pessoa.
De qualquer forma, sempre tentei ter a minha grana.
Quando eu tinha 7 anos, caminhei até a Pão & Companhia junto com a filha do Raimundo, que agora não me lembro o nome, e roubei caixas de bis para vender na escola. Só não derreti de tão nervosa que fiquei, porque o suor era frio.
Nascida em família levemente católica, estudante de colégio religioso e inserida numa sociedade profundamente moralista, eu já entendia que aquilo era condenável e naquele momento já soube que com o dinheiro do bis iria a qualquer lugar, menos para o céu.
Levei as caixas para a escola, me sentei ao lado da escada e vendi cada chocolate pela metade do preço que o Cláudio vendia na cantina. E torrei a mercadoria em segundos. Tão rápido que não deu tempo da Madre Lúcia recolher provas que justificassem as aulas de religião extras que ela gostaria que todos tivessemos.
Mais tarde, com 16, resolvi vender casadinhos na escola para comprar o presente de 1 ano de namoro pro Diego. Não roubei os ingredientes, mas utilizava mão-de-obra escrava (minha mãe e Luzia) para produzi-los. Minha mãe fez o investimento inicial, com litros de leite condensado e enormes quantias de doces de coco enlatados. A Luzia fazia o brigadeiro, eu enrolava e melava no açúcar.
A venda era clandestina. Alunos não podiam se envolver com comércio na escola, mas a sala de aula era uma grande mercado negro: de produtos avon à resumos de livro de José de Alencar para a prova. Eu adorava participar disso. Resolvi expandir o negócio e comecei a vender também para o 3° F por meio de uma ambiciosa amiga, a Andressa, para a qual eu pagava 30% das vendas que ela realizava. Parei com o terceiro setor quando começamos a estudar a Era Vargas e Andressa começou a exigir aumento e outros direitos trabalhistas.
Mesmo tendo aproveitado férias de verão em Itacaré com R$ 200,00 e não ter frescura com self-service, nunca me esqueço do dia em que realmente entendi como é caro viver. Foi no café do CCBB com a Mari. Pedimos um torta, uma água e dois cafés e a conta deu quase 10% do nosso salário. Está certo que à época nossa bolsa (não dá nem pra chamar de salário) era de R$180,00, mas foi o suficiente para eu entender que meu poder aquisitivo não me permitia freqüentar Cafés.
Já vendi bolsa pintada à mão, casacos de crochê, xilogravuras e luminárias coloridas que minha mãe levava para o trabalho. Fui arte-educadora em museus, escaneadora de imagens, monitora na UnB. Dancei em grupo popular, atuei em peça, fiz figurino, cenários, toquei maracatu e em roda de samba. Já fui fiscal de vestibular e de prova de concurso.
Então, sem quê nem porquê, como uma boa brasiliense, resolvi fazer concurso público para poder freqüentar Cafés e parar de engabelar os outros para descolar dinheiro. O povo todo levou um susto. Ninguém esperava. Mas suspeito que suspiraram aliviados.
Agora sem hipocrisia - é claro que eu quero ganhar dinheiro para poder ter vários filhos e ir sempre a Paris. Mas hoje eu percebo que existem outras coisas que são mais importantes para mim do que isso: empreender, realizar, criar.
E assim, cá estou eu num processo de retorno, querendo minha essência de volta.
E pra vocês, a frase do Chaplin que minha mãe me disse, e que tanto me emocionou, quando eu estava no ápice dessa crise profissional.
Tomem-na como um sopro meu, sejam impulsionados por ela, ousem. E saibam, por mais clichê que isso possa parecer, é muito verdade: o importante nessa vida é ser feliz e a felicidade não é um padrão. Muito menos financeiro.
Tomem-na como um sopro meu, sejam impulsionados por ela, ousem. E saibam, por mais clichê que isso possa parecer, é muito verdade: o importante nessa vida é ser feliz e a felicidade não é um padrão. Muito menos financeiro.
"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos."
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Adorei o post, tocou profundamente em mim.
ResponderExcluirMuito agradecida, Fran!
ResponderExcluirFoi do fundo do coração. =)
Nossa, nega! Muito bom!! Adorei! Tudo a ver...
ResponderExcluirAh... uma observação: lembro perfeitamente da Madre Lúcia. :D
ResponderExcluirSou sua fã! Amei!
ResponderExcluirObrigada por compartilhar um pouco da sua história conosco.
ResponderExcluirEstou muito feliz por tê-la - hoje - mais perto do que ontem.
Bjo enorme com carinho
♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥
Gostei demais, Mila! =)
ResponderExcluirQue gostoso passar por aqui! Parabéns :)
ResponderExcluirQuanta emoção nesse post, Camila! Muito bonito!
ResponderExcluirBjs,
Tatiana
Oi Camila, faz pouco tempo que conheço vc...mas esse post realmente tocou em mim...parece até que vc estava falando da minha pessoa hahahaha...adoro tudo q vc posta aqui. Beijão.
ResponderExcluirMuito agradecida, Simone.
ExcluirBeijão
Camila, sou como vc! Tentando me encontrar, ganhar dinheiro (já tenho uma filha pra sustentar!) e viver daquilo que amo! Mas ser artista e artesão não é fácil!
ResponderExcluirBjos
Guetlin
sabordeprimavera.blogspot.com.br
Guetlin, tente achar o equilíbrio, porque merecemos estar sempre perto do que nos faz feliz!
ExcluirBeijos
Vendo sua História deu tanto ânimo pra não desistir de lutar,para ser feliz!
ResponderExcluirBjs
Quem bom, Juliana! Fico muito feliz por isso =)
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